sábado, 8 de janeiro de 2011

A mulher Teimosa

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A MULHER TEIMOSA Numa aldeia de Barcelos, havia um casal que andava sempre ás bulhas, porque a mulher era muito teimosa. Um dia; o homem trouxe para casa um queijo que comprou na vila, e, ao jantar, pô-lo na mesa e pediu à mulher uma faca para o cortar, mas a mulher, em vez de lhe trazer a faca, trouxe-lhe uma tesoura. — Esta é boa! disse o homem — Como é que eu posso cortar o queijo com a tesoura? Foi coisa que nunca se viu! — Pois o queijo sempre se cortou com a tesoura — disse a mulher. — Que disparate! Com a faca’é que sempre se cortou. — Pois é com a tesoura! — teima ela. — É com a faca, mulher! E questionaram os dois por algum tempo, até que o homem, farto da teimosia, bateu na mulher, e perguntou em seguida: — Então é com a faca, ou não? — É com a tesoura, já disse! — teimou a mulher, apesar da coça que levara. O homem enfureceu-se tanto, que, perdendo a cabeça, agarrou na mulher e foi a correr deitá-la ao rio, o Cávado por sinal. A mulher, que não sabia nadar, foi logo ao fundo como um prego, e o homem, ao vê-la desaparecer, ainda lhe disse cá de cima: — Diz lá agora com que é que se corta o queijo! E viu-se então a mão da mulher aparecer por fora da água e mexer dois dedos, como a dizer que era com a tesoura. Nem naquela altura deixou de teimar. * * * Havia uma mulher que era muito teimosa, e chamava ao homem Mata-Piolhos. Segue-se que o homem não gostava do nome, e dizia-lhe: — Mulher, não me chames assim! Mas ela teimava. Um belo dia, o homem meteu-a num poço, mas ela, enquanto ia pelo poço abaixo, ia dizendo: — Mata-Piolhos, Mata-Piolhos, Mata-Piolho! E o homem sempre a fazê-la escorregar mais para o poço; já lhe ia a água quási no peito, e ela ainda: — Mata-Piolhos, Mata-Piolhos, Mata-Piolhos! Foi mais para baixo, e, quando já lhe chegava a água à boca e não podia falar, então levantou os braços, e só com eles de fora fazia o gesto de quem mata-piolhos. * * * Havia em tempos uma mulher tão teimosa, que por birra, meteu-se a uma ribeira, que levava muita água, e não dava passagem. Caiu na ribeira, e morreu afogada. No dia seguinte andou o marido em procura do cadáver da mulher; em vez, porém, de seguir o leito da ribeira, acompanhando o curso da água, êle procurou o cadáver pela ribeira acima. — Procura mal o cadáver, — disse um compadre — pois é natural encontrá-lo lá em baixo. — Não, compadre, a minha mulher era muito teimosa e mesmo depois de morta é capaz de caminhar contra a maré. ★ Cláudio Basto,


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